Um olho no impeachment, outro na Prefeitura

Osório e Heuler: campanhas municipais influenciadas pelos processos contra Collor e Dilma

Osório em ’92, Heuler em 2016: candidaturas influenciadas por clima de impeachment 

Quase 24 anos atrás, o então deputado federal por Rio Verde Osório Leão Santa Cruz vivia uma situação, em muitos aspectos, parecida com a do atual representante da cidade na Câmara dos Deputados, Heuler Cruvinel.

Prestes a enfrentar uma eleição para a Prefeitura de Rio Verde, ambos se viram pressionados pela opinião pública a votar pela cassação de um governo que costumavam apoiar. Caso contrário, assumiriam o risco de arcar com o desgaste nas campanhas para o cargo de prefeito em 1992 e, agora, em 2016.

O contexto nacional era similar aos dias atuais: convulsão social e econômica, crise de popularidade do presidente, denúncias de corrupção no governo e, no Congresso, pedido de impeachment correndo a todo o vapor.

As reações também eram idênticas: assim como acontece hoje, o governo tratava a abertura do processo como ‘golpe’, enquanto a oposição defendia que faltavam condições ‘éticas e morais’ para continuar. Curioso notar que, muito embora o PT tenha trocado a posição de estilingue na década de 90 pelo de vidraça no século 21, o papel do PMDB é surpreendentemente o mesmo no pano de fundo.

“Acho que não tinha razão para isso (impeachment de Fernando Collor), mas, se eu votasse contra, perderia a eleição para prefeito”, admitiu Osório em uma entrevista publicada em 2014 pela Revista King. “O motivo foi a eleição municipal”, confessou.

Resultado: embora frequentasse a Casa da Dinda e indicasse cargos no governo Collor, o rio-verdense votou pela derrubada do governo, com direito a discurso inflamado de amor ao Brasil. A principal indicação dos goianos no governo Collor foi Paulo Roberto Cunha na presidência da Conab (Cooperativa Nacional de Abastecimento), feita justamente por Osório.

“O que aconteceu foi que o pessoal antigo do PMDB resolveu tirar o Collor. Se ele tivesse organizado a votação dos deputados por bancada – e não por ordem alfabética – não teria sido derrotado. Pelo menos não daquela vez”, declarou Osório à King dois anos atrás.

Semelhanças à parte, é preciso ressaltar também as diferenças. Ao passo que Osório foi um dos principais coordenadores da campanha de Collor em Goiás em 1989, Heuler Cruvinel trabalhou em prol da candidatura de Aécio Neves em 2014.

No entanto, quando trocou o DEM pelo então recém-criado PSD no mandato passado, Heuler dizia que deixava um partido de oposição para integrar uma sigla da base governamental.

A manobra contribuiu para destravar a liberação de emendas do parlamentar, que passou a ter trânsito livre nos ministérios e contar com a companhia de figurões do governo em eventos na cidade, como Miriam Belchior e Gilberto Kassab.

De volta à oposição desde a reeleição em 2014, o deputado do PSD, assim como a maioria da bancada do seu partido, já declarou voto favorável ao processo de cassação a ser votado no domingo (17).

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